quinta-feira, 25 de maio de 2023

O louco

O louco casa com a criatividade, na saúde e na doença, ate que o desastre o coloque na fossa. Hora em que se separa os homens dos animais: o animal sorri lá do fundo do poço e pede, sorrindo, ao barman "mais uma dose, vou mandar mais um verso". Assim segue ate o último.

No dia seguinte, acorda de ressaca, cheio de marcas. Mas agora não se arrepende mais: Ele abraça a si mesmo. Aceita o desastre construtivo de se perder em fantasias.

A maioria das pessoas busca calma, segurança, ordem. O louco é meio sádico, impondo o caos e a intensidade. E nem é deliberado! Sua escolha é só aceitar ou não, aproveitar ou não. É como se ele fosse a verdade viva de que estamos postergando o inevitável. A ordem é sem sentido, perdida por ai num vácuo de significado.

No máximo somos atores que interpretam personagens. O "nós mesmos" é um amalga de desejo e expectativas, nossas e dos outros, tudo embolado. Estamos tentando ser nós mesmos, embora a gente nao faça ideia de quem nos somos. Então somos necessariamente inventores de um eu, que é mera projeção.

Aqui e ali, o louco pode até desligar e amar, transar e devorar o mundo. Mas no fim, é o riso, o sorriso singelo, sincero e inocente que o define.

Não tem nada mais sádico. Ele fica ate com vontade de chorar

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