quinta-feira, 23 de julho de 2020

Sobre o vestido

Passeio junto a esse vestido,
que desvela sob meus olhos o que vela de suas linhas
Proclamando as formas que abraça num amor flexível
Transbordando a sedução que o domina,
cada trama significa sua beleza
E se engana aquele que acha que pode elogiar
o que de fato é, provado em lisura
Esse vestido são palavras sem texturas, descrevendo suas curvas
É um verso sem pudor de me tirar o fôlego
por tanta ausência de costura...
Para canto que vou, sou Sísifo, no suspiro,
e Prometeu, na aventura

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Nu entrelinhas

Àqueles que se perdem por aqui
Que não entendem sobre mundos entrando
Sobre a solidão de seguir na frente...

Digo que não sei da loucura que passam:
acorda que piso, já conhecida, se mola
Digo que não sei sobre essas estrelas de que sentem falta
Mentira, que sei
Apenas foi bicicleta:
aprendi, o silêncio produz as sombras
Que viram dramas,
daí, uns ramos no papel...

O impressionante na falta
é que meu passeio rendeu eu
Eu, tomado pelo universo que vi

Todas as oportunidades perdidas
Todas as guerras que não ganhei
De todas e todas que decepcionei,
ansiedades que me partiram,
única coisa foi que [eu] perdi [eu]

A carência, o calor, arrepios,
medos e floreios fúteis por aí,
na loucura do escancarado,
escarrado por telas gritando
em belezas os desesperos:
Não foram mais curiosos!
Não mais que o estranho que voltou

Como o novo sobrevive de experiências antigas,
enquanto mundo desmorona das ruínas que questionei?
Mundo é a desconstrução da minha ilusão?

Àqueles que se perdem por aqui,
entre solidão e medo,
entre ilusões e crenças,
entre suicídio e sorrisos de foto,
digo "joguem fora o sentido!"
Decidam num jogo de palavras!
Deixem a sorte guiar o texto...
Deixem nu entrelinhas!
O que volta é poesia...

terça-feira, 31 de março de 2020

Comentando desenhos

Vontade devorar calada, voz submissa
Olhar é suplica no aperto meu contra seu
Quero dominar como te marco em lábios
Ser no seu ombro aquele vulto
Suas costas linhas de minhas mãos
Abraçar teu esquio, fazer gritar seu prazer
Consegue imaginar a mordida?

Sussurros, ouve? Enquanto respiro você
Cresce fome ali, sem pressa rondando seu seio
Dando raiva pelo desdém ao seu desejo
Provocando e provocando enquanto pele estica
Entumece sua sorte, um arrepio aqui ali
Quando seu corpo encontra parede sem saída
a não ser suspirar enquanto...

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Voltar além


Energias que envolvem
Fluem acontecem seguem
Reciclam viajam...
Transformam o cosmo em mitos
que seguimos, falsas verdades metafísicas
dizem “como verdades e não mentiras”
E comem e comem, essas energias
Respiram sem perceber tudo supérfluo, aquele gênio:
Em essência artificial sentido e emocional como gárgulas que protegem,
não corpos mas sanidades de águas
(dos rios ou em escarpas...)
Olhando ali de cima a decidir se joga ou se mata
se segue ou motiva, sem consciência de si
Tudo imerso na ilusão de algum lugar a que se chega,
quando encontra os moinhos falso que persegue
Assim, mesmo parado sentado em preconceitos,
são como cantos não de pássaros,
mas do silêncio da razão
O mesmo que cria as serpentes de muitas cabeças,
mas sem o cabimento do fato
E dardos que lançam por ai se perdem e acham adeptos
que seguem cegos as cruzes e advinhos autoproclamados sábios
Estes não sabem encontrar nem verdades nem clitóris
Se acham sem surtos, curtos pensamentos que não viajam
Só cagam dormem e são por que tem ali na esquina uns loucos
que os questionam
Porque na natureza são menos que pedras
e no ciclo emperram achando a alteridade vazia
Tudo eu idealizado, tudo pequeno naquela mente
Céu fechado, nuvens dogmáticas mesmo
Contudo a energia vai circular, ao po de volta
se tornando de novo alguma coisa relevante
Um grande pensador qualquer, ou um seguidor
São apenas a negação de seus eus efêmeros
Uma energia que nem se vê e entende nada…