quinta-feira, 25 de maio de 2023

Crítica ao protagonismo

 Usei cavaleiro do tempo antes, mesmo não havendo tempo muito menos cavalo amoral /e tudo o que temos é essa poeira na qual nos agarramos, comendo e bebendo de nossa origem e fim / não tenho como deixar de sorrir da imagem do Vênus que que me criou na dor ou nos seios que acalentam sonhos delirantes / somos ser clichê, subraça dos humanos, surgida quando fomos de um pra dois e a festa e tristeza passou de natural a lei /eu gostaria de explicar e gostaria mais ainda de ser explicado, e nessa dicotomia somos todos aprendizes e professores das nossas invenções / e nem isso tem valor, fora de nossos egos, esses sim cavaleiros atemporais que chegam antes de nós, sendo a ilusão da imortalidade que perseguimos / essa cavalgada é isso, a busca do gigante do moinho, uns chamando desespero outros clamando amor.

vampiros

Sombrios e bons, não matamos a esmo
Nos becos sujos, uns corpos aqui e ali
Viemos salvar almas, costurar umas às outras,
vendê-las no mercado
 
Fazemos pactos para sangue florescer 
Sombrios e bons, perdidos em noite pântano
quebrados e unidos pelo piano
Estamos com capas e presas,
com som à matar acomodados

Lançamos dúvidas para viver

Sombrios e bons, armados com palavras
Afiados com concordância e raiva,
vamos ceifar os cruéis,
incomodando peixes com seus nados,
pela ousadia da concorrência

Buscamos rosas para nos abster

Sombrios e bons, assassinos de nós,
cortamos com olhares indiferentes
Somos crianças brincando de dor e culpa,
alegremente deixando a sanidade de lado

Plantamos nós ao morrer

O louco

O louco casa com a criatividade, na saúde e na doença, ate que o desastre o coloque na fossa. Hora em que se separa os homens dos animais: o animal sorri lá do fundo do poço e pede, sorrindo, ao barman "mais uma dose, vou mandar mais um verso". Assim segue ate o último.

No dia seguinte, acorda de ressaca, cheio de marcas. Mas agora não se arrepende mais: Ele abraça a si mesmo. Aceita o desastre construtivo de se perder em fantasias.

A maioria das pessoas busca calma, segurança, ordem. O louco é meio sádico, impondo o caos e a intensidade. E nem é deliberado! Sua escolha é só aceitar ou não, aproveitar ou não. É como se ele fosse a verdade viva de que estamos postergando o inevitável. A ordem é sem sentido, perdida por ai num vácuo de significado.

No máximo somos atores que interpretam personagens. O "nós mesmos" é um amalga de desejo e expectativas, nossas e dos outros, tudo embolado. Estamos tentando ser nós mesmos, embora a gente nao faça ideia de quem nos somos. Então somos necessariamente inventores de um eu, que é mera projeção.

Aqui e ali, o louco pode até desligar e amar, transar e devorar o mundo. Mas no fim, é o riso, o sorriso singelo, sincero e inocente que o define.

Não tem nada mais sádico. Ele fica ate com vontade de chorar

Sobre o quase

A ansiedade jorra palavras
sim, coito interrompido do não dito em bom som, ao teu ouvido
mas em versos, certeza traduzem maus pensamentos
se não te arrepio com minha boca,
que minha língua te explore e domine!
porque se não há prazer no desespero,
o mesmo não se firma na expressão do desejo
e seja essa expressão com admiração,
ou descontrole dos corpos
poderíamos até agarrar a sanidade
ou nos despir da culpa e arfar em rima

Mas a verdade... a verdade não sei.
ela se perde na afinidade entre o que é vontade e um fogo miragem
que se não queima, cega
mas e daí? é que no escuro não da pra te ler e saborear a sintaxe
talvez seja só questão de gramática
encontrar o substantivo que me devora enquanto te olho
transformar em verbo aquele gosto desconhecido

No canto dos olhos

Um vento calmo passeia aquele cabelo
sobre toda aquela tempestade de aceitação
o inevitável desastre em minhas mãos
aquela escolha que se evita,
perecendo na podridão

Porque se repetem erros,
nem entra no mérito desse galpão:
estão lá lágrimas e solidão,
mas também uma loucura episódica
que se pensasse diria porque não 

Sinergias climáticas
como manteiga no pão
grito em desespero que alguém me evita
sabendo a delicia ao alcance da língua
enquanto segredos transbordam no chão

Poderia essa calma combater o prazer?
fazer frente ao desejo que excita
quando são as aventuras pelo seu corpo
que me perdem
sobrando ao animal buscar a caça
e morder cada centímetro da sua presa?

Calmo,
o selvagem sob a pele,
nem tanto...

Da loucura a razão

 Coração acelerado prestes a sair cometendo loucuras
Aliás, loucuras não: uma loucura
Uma vírgula dividindo o antes e depois do desastre,
não como barragem, mas como liberação que ronda sua floresta, montes e pastagens
Um desejo só de jogar foras a nós e entrar naquele mundo de prazer prometido,
mesmo que todas as juras sejam decepcionadas,
que se sigam horas fio numa busca prazerosa pelo inalcançável
Ainda seja dentro que resida a resposta, quero fazer a pergunta sem palavras
só carinhos e dedos,
expressando línguas aqueles argumentos,
que nada têm haver com cuidado

Queria parar de escrever e agir, seduzir
Mas escrevo sem parar, esperando que saia como gozo,
todo o calor desses pensamentos
Tudo para aflorar aquelas suas imagens onde me iludo participar

Aos poucos a respiração acalma
Então vem o medo de abrir a porta e a verdade sair comigo
Não penso que mal tem aqueles que vão morrer arriscar
Arriscaria o autoengano que a saudade do fundo do poço anseia
Não penso qual o seu gosto ou que gritos faria
Grito: não vá e se for devore

O que penso é que não existe culpa
Que, do começo ao fim, não somos melhores que crianças
Sem orientação, sem respostas
Pior, somos desejo e preconceito,
presos a uma moral duvidosa de que não queremos fazer o outro sofrer
Combatendo sem motivo, um tesão reprimido

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021


Construída do fundo do poço, tocada pela loucura
Cedeu ao desespero, vendendo sua alma ao repúdio
Passou a alimentar as fantasias dos cruéis, tornando-os clientes
Virou mestre dos jogos, psicológicos e lógicos,
controlando mentes e corpos
Além de qualquer moral, seguia apegada ao primeiro que cuidasse,
daquilo que sacrificava
Queria um escape de si, orbitando o limiar da autodestruição
Se fosse poesia, seria soft rock e um punk verso
mas era mulher obcecada por aquilo que afastava,
pois assim é o medo
Sob certezas e convicções se enterrava no trabalho de satisfazer o outro, e era assim que passava a se existir
A mais efêmera das estrelas, desnudando a si e a tristeza do mundo
apegada àquela fantasia do salvador capaz de se sacrificar
para fazê-la brilhar eternamente